Amor de lua,


Me cobre nesta noite

de flores, amores e mimos
Te espero, à sede no amanhã
Pousar no teu peito,
para vagarosamente se acalmar
Para cobrir de cores
e sentir no florescer das flores
Se recusas ao peito
Respiro e choro
Não fuja agora!

Realidade

O "neblinar"
Das costuras do tempo

À margem poeta

Sonho tem barulho
Quando se tem que acordar.

Bagagem



Trem de pouso,
na hora de partir
Repetindo as cores,
Levando as dores

Carregando temores
Peito à dentro
Lua a solar

Sonhos sem saída
Ardente pulsar

Queria um tom ou um lápis
rabiscar o caminho da partida
Remando a tristeza para o lado de lá.

Vento


De repente se ouve o calado perpétuo dos sonhos. O frio latente do medo nas costas. E o vento pousando em cada colibri de céu. Veja a felicidade logo ali que nos comprimenta em passos ingênuos. Vitórias encorajadas por traz dos sorrisos que trás. Pássaros na porta - de amores às pressas. Que tudo o vento leva. Que leva para si e trás um pouco de nós. Nos retrovisores do presente ao passado, os retratos discretos, de faces em outros contornos, onde tudo passado era tempo. Do vento que atrasa o tempo. Refaz o tempo e que também adianta as horas.

Efeito

                                                                                    
A angústia resolveu
Se retorcer para um outro lado
Retirando-se da pequena encruzilhada
chamada de batimentos aleatórios
Metáforas ambulantes dentro de si

à falatórios e gritos dispersos
Uma grande outra dispensa
para assim digerir
Um balde de
águas adocicadas

Papéis e folhas
Eram o vácuo perto do peito
embrulhado, amaçado e retorcido
Era alma que tinha cores de neblina
De efeitos e sombras,
Máscaras e barulhos
O silêncio não morava ali
Nem tão perto sucumbia.

Da minha janela


O sol que se despede,
é o mesmo que veio colorir e solar.
Fim de tarde
é equilibrar
sobre os desassossegos
É vencer o dia, sem cessar
É um ensaio
para lembrar
É desejar que os sonhos
se proceda como as nuvens
sem parar.

Ensaio para lembrar



Passado o tempo, o gosto contínuo pelas suas memórias ainda permaneciam. Resolveram sentar no final de uma rua, numa dessas vilas, onde viveram por todo o tempo - Quase todo o tempo de suas vidas. Apanhavam sempre o costume de olhar o céu e fazer alguns dos desenhos. E embora as nuvens estivessem sempre tortas demais, elas
sempre avistavam animais. Particularmente (os animais) estavam imóveis pensando nas suas vidas - ao olhar das duas meninas. Os animais em poses que de lá, pensativas, olhando, não sabe se lá o quê – talvez fosse à despedida do sol; aliás, era fim de tarde.

Estribeiras de pouca bobagem eram mesmo as risadas soltas das meninas, sobre palavras mordiscadas de apelidos uma à outra. Cheiravam a sonhos e tinham gosto de vida – dizendo de alegrias apostas sobre tudo que iam criando.

Sempre chamavam a colocar sobre o tempo alguma das lembranças (meras apagadas, eu diria) e outras singelas bem recordadas, mas propriamente lembradas pela menina mais nova e mais esperta.  A menina mais velha, em suas palavras até dissera:

- Nunca ouvi tão sábias lembranças sem ser contadas por Alice. Até penso que ela tem um caixote grande e imenso, ao invés de um cérebro como os nossos – e sorria solto logo depois.


Mirabolantes as ideias de fuga contra lembranças cruéis. Ensinando uma à outra como poderia ter driblado de tais situações, como numa dessas paixões um pouco embaraçosas.

Sabiam de segredos, e fizeram parte de suas mesmas lembranças – de quase uma vida inteira.  Alice até sabia que a folha preferida de Ana, (a menina mais velha) era a Ácer (bordo).  As folhas ficavam entre uns dos livros de Ana, no qual ela escrevia sobre o dia em que acharam a folha – no qual dia, estavam juntas por sinal e felizes.

A menina mais velha e de ideias mirabolantes sorriu, para não cansar a alegria das lembranças que a sucumbia. Olhou para a gravura do livro, onde a menina dos cabelos pretos como piche é ainda a mesma que a fez desembaraçar todas as lembranças. E disse em silêncio:

- Sinto muito sua falta.

Fechou
o livro e encerrou os olhos. Era lua de fim de noite, e as estrelas cessava lá fora, assim como a alma descansava em suas meras lembranças.