ACERNAL

Sou, Um barquinho indo e vindo, A dor, o movimento, o que aflige e liberta As vezes vela, no mar informe Sou Mais que as estruturas físicas Um amontoado de peças, procurando encaixes abastecendo-me de almas Recebo, De algumas, o pôr do sol. De outros? Figuras no espetáculo da vida.

Sentido do olhar


Ainda que chova (aqui dentro)

e, ainda que a alma desfaleça-se
em cacos

Meus olhos contemplativos serão
o mais sublime dos meus atos


Para inteirar-me de ser,
e a primavera de mim,
o tempo.

clichê



Distorcer os gostos

O querer,
A astúcia,
a teimosia interior. 

Distender alma 
que se 
sonha só,
será dispor de
ser.

A palavra comum,
o amor excessivo
o lugar trivial
variou o tempo de ser
mas os clichês nos tornam bem também.

O Roteiro das Coisas



Nem sempre as coisas seguem um roteiro certo. Tem aqueles que dizem: O destino se desviou em um certo momento e tudo mudou. Nem sempre essas coisas são como havíamos planejados no início. Coisas essas que nos despertam vontade e expectativas. Não que planejar seja desnecessário. Não, porque são eles que nos permitem sonhar, e que de alguma forma nos movimentam. E é por isso, que buscar – o caminho – torna algo essencialmente mais importante e prazeroso. Mas os caminhos até então, são desconhecidos e nessa “lista de desejos” temos certeza apenas da linha de chegada e não dos desafios que nos fazem chegar até lá. Pois, nesse momento da vida, normalmente estaremos mudando os percursos e enfrentando coisas novas. Assim sendo, o tempo nos faz encontrar ou nos perder de nós mesmos, pois podemos decidir: entre esperar ou continuar seguindo. 

As coisas mudam.

Por um lado, não seria interessante se as coisas fossem exatamente da maneira como gostaríamos que fossem. Porque os momentos que não estavam no “roteiro principal”, (os quais chamamos de momentos surpresas ou eventualidades da vida) possibilita-nos a conhecer outras coisas e outras pessoas e talvez até saibamos nos reconhecer como o personagem principal desse roteiro. Nos descobrindo, moldando quem podemos ser. Sem precisar fingir ou fazer-se de indiferente. Talvez estejamos também, até mais curiosos para experimentar o que não sabemos e até mais felizes e prontos para continuar caminhando. Percebo então, que não nos descobrimos apenas no que seguia a rota do início (ou seja, nossos desejos). Mas sim, nos descobrimos a partir de outras descobertas. E não vejo outra forma, se não o ato de experimentar. Experienciar algo novo, conhecer outras pessoas, explorar outros lugares ou caminhar através de pontes onde os roteiros nos fazem equilibrar, sobre coisas que causam estranhamento, mas especialmente aqueles que já nos é dado o domínio, ainda que tudo isso não esteja nos nossos planos. Consequentemente, a mudança passa a ser um ato de construção de si mesma, desvencilhando-se de um roteiro, e é inevitável: nos descobrimos também.

Abrir-se da dor e do verso


Da velha poesia,
de que na rima dá se um jeito

Que se embriagou dos versos,
para livrar da dor

É da mesma que inundou o peito

Que foi o choro
O riso desfeito

Do que procuro entender,
pois

Tem dias que você é motivo
Tem dias que o motivo é você.